Relato do meu parto humanizado

Uma das coisas que eu amava fazer, desde que decidi pelo parto humanizado, era ler e assistir relatos de partos desse tipo. Aos poucos, minha confiança foi aumentando e o medo do desconhecido indo embora. E agora, depois de viver essa experiência, é a minha vez de te contar o relato do meu parto humanizado.

Minha gravidez foi ótima, sem grandes problemas e aflições. Quando cheguei na semana 38 comecei a prestar mais atenção às modificações do meu corpo. Tá, eu sei! uma pessoinha se formava dentro de mim e meu corpo mudava todos os dias rsrsrs Mas a partir da semana 38 é quando os sinais de trabalho de parto aparecem com mais força. Minha barriga começou a baixar e, volta e outra, endurecia e relaxava. As famosas contrações de treinamento tinham chegado e foram aumentando gradativamente.

Com 39 semanas e 1 dia, tive um corrimento diferente. Era uma meleca verde com uma textura mais densa. Não tinha sangue. Meu esposo mandou uma mensagem pro grupo das minhas doulas perguntando se existia queda de tampão na cor verde rsrsrs As meninas explicaram que essa meleca saía antes do tampão cair de fato. A partir daí as coisas começaram a evoluir.

As contrações de treinamento ficaram mais recorrentes. Se antes vinham uma vez a cada turno do dia, nessa semana começavam a aumentar suas repetições. 3 vezes pela manhã, 2 à tarde… Elas eram desritimadas, sem uma sequencia lógica. Não doíam e, pra falar verdade, nem me incomodavam. Era uma sensação diferente, mas pra quem já estava levando chutes e empurrões, aquilo era só mais um movimento na barriga rsrsrs

Aurora começou a se movimentar bem mais. Ficou mais ativa. Eu considerava ela meio preguiçosa no percorrer da gestação, movimentos lentos, virava devagar na minha barriga. Zero chutes nas costelas, somente empurrões muito gostosos de sentir. Mas na semana 39, era um troca troca de posição. Rola pra cá, rola pra lá. E eu amando aquilo tudo. Sentir seu bebê mexendo dentro de você é mágico.

Com 39 semanas e 6 dias, antes de dormir, fui ao banheiro e quando me limpei saiu outro corrimento verde, mais denso e com um fundinho rosa beeeem discreto. Bem discreto mesmo! rsrsrs Minha doula disse que já era o tampão caindo. Eita, que agora vai! Pensei comigo: – Calma… Eu sabia que o fato do tampão cair, indicava somente que estávamos nos preparando para o trabalho de parto. Na média, o trabalho de parto ocorre entre uns 3 ou 5 dias depois da queda do tampão. Tem relatos de até 2 semanas de espera. Então eu pensei comigo: Beleza, acho que lá pra 40s e 3 dias a baby dá as caras. Eu tava enganada hehe

No dia seguinte, exatamente no dia em que completávamos 40 semanas de gravidez, senti um lance estranho do habitual pela manhã. Uma aguinha escorreu, logo após eu levantar da cama. Achei até que era um espirro de xixi que eu não tinha conseguido segurar. Gravidez tem dessas 😛

O corrimento era beeem líquido, tipo água mesmo e veio acompanhado de pontinhos tímidos na cor vermelha. Foi em quantidade suficiente para molhar todo fundo da calcinha, mas não para escorrer. Mandei uma mensagem para meu obstetra, Dr. Thiago Saraiva, e avisei do ocorrido. Ele pediu que eu colocasse um absorvente e observasse. Eu tinha uma consulta com ele às 12h, isso ocorrera umas 10 da manhã. Ele me examinaria na consulta.

Às 12 horas estava eu linda e plena no consultório de Dr. Thiago – SQN. rsrsrs Ele olhou pra minha cara e falou: Está com cólica, né? rsrsrs Ele estava certo. Desde às 11 horas comecei a sentir uma cólica chatinha, leve, tipo de menstruação mesmo. Daquelas que você só quer um copo de chocolate quente e Netflix hehe

Ele me examinou e disse que não tinha achado indicações de bolsa rota, que é quando a membrana amniótica se rompe sem que a mulher esteja em trabalho de parto efetivamente. Ele resolveu pedir uma Ultrassonografia para ter certeza, pois o rompimento poderia ter ocorrido na parte superior da bolsa e ser muito pequeno.

Voltei para casa, mas antes passei no shopping, já que o consultório dele era num empresarial a passos do Shopping Rio Mar (MARA rsrs eu sempre batia perna depois das consultas). Eu já não sentia mais cólicas, somente um leve desconforto. Comprei duas luvinhas e uma touca que estavam faltando no enxoval. Pergunta se eu usei a touca no calor infernal de recife? não kkkk Só no hospital mesmo. Coisa de mãe de primeira viagem. A gente segue a risca o que dizem na tal da lista 😛

Cheguei em casa e estava bem. Sem cólicas, sem contrações. Pensei comigo mesma: Não vai ser hoje. Estava esperando meu esposo chegar do trabalho para irmos fazer a ultra.

Meu esposo chegou umas 15h. Eu estava deitada na cama e quando levantei para sairmos… PLUF! Um balão de água estourou dentro de mim. A sensação foi exatamente essa: um balão de festa cheio de água estourando dentro da minha barriga. Não consegui segurar nada que saia a partir daí. Era água atrás de água. Em minutos, encharquei 3 absorventes noturnos. É! Acho que agora sim a bolsa estourou.

Mandei um Zap para Dr Thiago e ele me deu a certeza, estamos em trabalho de parto.

“Descansa, toma um banho… Relaxa que as contrações vão começar a chegar. Baixa um aplicativo de contrações e me envia os relatórios, vamos começar a acompanhar seu trabalho de parto”.

Como eu falei no começo, eu li e assisti vários relatos e realmente nesse momento elas vão tomar banho, arrumam o que falta, tem uma contração aqui, outra acolá e começa a apertar a medida que o tempo passa. Se maquia, coloca aquela roupa especial. Na minha cabeça, eu ia fazer aquilo tudo.

15:30 eu estava no chuveiro tomando meu banho relaxante e Pá, uma contração – Caraca, essa foi forte. Vou lavar o cabelo? Melhor não. 4 minutos depois – Pá! outra contração – Não conseguia passar sabonete. Era uma dor forte no quadril, uma vontade de agachar. Chamei meu esposo e ele foi me ajudando a sair do banho – UOU! Outra… lembro bem de virar pra ele e dizer: Ou eu sou fraca demais, ou esse trabalho de parto tá avançado demais.

Mandamos uma mensagem pra Dr thiago com o relatório seguido da frase: Tá vindo rápido demais. A esse ponto eu só pensava, não deu tempo de me arrumar, nem de me maquiar, nem de descansar… O que tá acontecendo? Eu devo ser muito fraca mesmo.

Ah! Antes que eu esqueça. Eu tinha muita curiosidade de saber como era uma contração. Sei que varia de mulher para mulher, mas no meu caso eram dores muito fortes na lombar. No início, eu não sentia nada na barriga.

Passados 40 minutos com as contrações ritmadas de 30/40s a cada 2 minutos, Dr Thiago deu o ok e fomos para o hospital. Só que isso já era no horário de pico daqui de recife e uma das ruas que tínhamos que pegar pro hospital era a mesma da galera voltando pra casa. Ficamos muito tempo no trânsito. Levamos uma hora para chegar num hospital que sem trânsito levaria menos da metade do tempo.

Foi um lance de cinema, eu dentro do carro tendo contrações a cada 2 minutos, um engarrafamento e o carro travado na rua a uma quadra do hospital. Era uma amiga que estava dirigindo, eu no carona e meu esposo no banco de trás. Ele desceu do carro e foi pedindo pros outros carros irem abrindo espaço para chegarmos no hospital. “Minha esposa está em trabalho de parto dentro daquele carro. Tem como abrir espaço?” Se ele não fizesse aquilo, não íamos sair do lugar tão cedo. O trânsito estava literalmente parado.

Após alguns carros ajudar abrindo espaço e outros não (Acredite! Teve gente que não quis mover um músculo pra ajudar). Chegamos no hospital, desci do carro e já estavam todos lá à nossa espera. Aquela visão linda das meninas do GRAP Recife e Dr Thiago – Ufa! Chegamos.

Me perguntaram se conseguia ir andando. Eu estava entre contrações ( É impressionante como você realmente não sente nada). Desci do carro e falei que conseguia ir andando. kkkk Ai Ai, esqueci que em 2 minutos ela vinha de novo. No meio do caminho, já parei e respirei fundo. O processo tava ficando cada vez mais tenso.

Seguimos para o quartinho da triagem. As contrações eram fortes, mas suportáveis. Dr. Thiago pediu que eu deitasse para ver minha dilatação. Deitar naquela fase do parto era bem desconfortável. Segundo ele, eu teria pulado a fase Pródoma e entrado direto na fase ativa do parto. Esperamos uma contração terminar e deitei rapidamente para que ele me examinasse. “Parabéns, Bruninha! Está com 8 quase 9.” Eu tava meio confusa e não entendi bem o que aquilo queria dizer. Meses me preparando e na hora fiquei meio avoada kkkk Virei pra minha doula e perguntei: Isso quer dizer o quê? – Quer dizer que com 10 ela começa a nascer! Você está muito avançada, parabéns! 😀 Foi aí que caiu a ficha: Aurora vai nascer ainda hoje!

A partir daí foram contrações atrás de contrações. Elas foram apertando. Não conseguia pular na bola, o chuveiro relaxava muito a dor nas costas. As dores ainda estavam concentradas na lombar. Foi aí que conheci o Tens , aquela maravilha que as meninas do GRAP usam para aliviar a contração. Aquilo é maravilhoso! usei ele o trabalho de parto inteiro. É uma maquininha de choques leves na região da lombar. M-A-R-A-V-I-L-H-O-S-O! rsrsrs Outra coisa que diminuía o desconforto na lombar era a pressão que as meninas faziam com a mão.

O hospital não tinha vaga em quarto nenhum. Era véspera de Carnaval e todos os quartos estavam lotados. A galera marca a cesariana para antes do feriado e, quando cheguei lá, o hospital informou que já estava tudo lotado ou reservado. Eu queria muito que meu parto fosse no quarto do hospital, com a piscina cheia e o Santa Joana era o único daqui de Recife que permitia parto completo no quarto. Mas com meu trabalho de parto avançado e os quartos ainda lotados, a solução era subir para o centro cirúrgico e arrumar tudo para que o parto humanizado ocorresse por lá mesmo, só que sem a desejada piscina.

Saí do quarto da triagem direto para o centro cirúrgico. Somente uma das doulas pôde nos acompanhar. Ar condicionado fraco, luz reduzida, música de fundo. Mesmo não sendo como planejei, me senti bem a vontade.

Dr. Thiago perguntou em qual posição eu queria ficar. Naquele momento a única vontade que eu tinha era de agachar. Uma vontade muito grande de ficar de cócoras e foi assim que fiquei. Alexandre, meu esposo, ficou atrás de mim e eu me apoiei nele. Nunca imaginei que essa seria a melhor posição pra mim. As dores migraram da lombar para a parte inferior da minha barriga. Eu já estava totalmente dilatada e sentindo uma pressão mega forte na vagina.

Durante o pré natal , Dr. Thiago comentou algumas vezes sobre o relato de pacientes que sentiam uma sensação de queimação intensa na fase expulsiva. Ele falava muito desse “Círculo de fogo”. Assim que entrei nessa fase, entendi bem o que seria isso. rsrsrs Realmente, a queimação é enorme. Comentei várias vezes com o Dr. que estava queimando muito. Era Aurora nascendo.

Fiquei algumas contrações com essa queimação forte. Não me lembro quantas. Era uma queimação misturada com ardência. Uma cólica forte no pé da barriga. Estava na fase expulsiva e uma caixinha de chiclete rodou entre as mãos dos presentes na sala. Lógico que eu aceitei um rsrsrs

O parto estava fluindo de forma calma. Durante a gestação, o parto era uma incógnita. Eu não sabia como me sairia, se iria me desesperar. Me lembro que não gritei, gemia de dor. Sabe aqueles gritos de novela das oito? rsrsrs Eles não me ajudariam em nada. Ao invés dos gritos, tocavam as músicas que escolhi.

Comecei a colocar em prática o treinamento de respiração que tive com as doulas. As contrações eram fortes e a pressão lá em baixo era tremenda. Estava ficando cansada. Disse já no finalzinho para o Dr. que achava que não aguentaria fazer força, se fosse necessário. Ele, com aquele ar calmo e sereno, me disse para não se preocupar: – “Ela vai nascer sozinha. Só deixa ela vir.” Mais algumas contrações, quando já se via os cabelos e o topo da cabecinha de Aurora dizendo Oi para o mundo, disse que estava ardendo muito e que queria analgesia. “Só um remedinho, Dr!” rsrsrs Eu já havia me preparado para minha possível vontade de voltar atrás na parte final do parto rsrsrs Realmente, essa parte final do expulsivo é bem difícil. Arde bastante. Coloquei no plano de parto que não queria nenhuma intervenção ou medicação sem necessidade. Nada mesmo! nem um comprimido. Dr. Thiago sabia disse e me acalmou: – Ela já está nascendo. Já já você vai conhecê-la. Você está indo bem.

Mais algumas contrações, senti ela super encaixada. Estranho, parecia que meu corpo sabia que aquela era a hora de colocar em prática os treinamentos de expulsão que tive com as meninas do GRAP. Respirei e foquei toda a força naquela região. Senti a cabeça dela escorregando aos poucos e aí… Alívio! Nossa, que sensação única! Era satisfação junto com agradecimento. Sensação de alívio com missão cumprida. Eu não estava acreditando que estava acabando. Que nós duas, eu e Aurora tínhamos feito aquilo sozinhas. Sem nenhuma interferência, sem analgesia, sem peridural, sem acessos/soro, sem nada e que, em mais uma contração, eu teria ela em meus braços.

Olhei para Dr Thiago – Eu sabia que na próxima contração ela viria totalmente ao mundo – Vai doer do mesmo jeito? questionei à ele. “Você não vai sentir nada”. Era verdade, na próxima contração, fiz a mesma respiração que aprendi para o expulsivo, e ela nasceu. Linda, gordinha e esperta nas mãos do meu esposo. Muito Louco tudo aquilo. Foi mágico! Foi único! E sem sombra de dúvidas, foi a experiência mais recompensadora da minha vida.

Espero que tenha gostado do relato e que ele te ajude a se preparar para o seu grande dia. Não tenha medo, não se sinta incapaz. A dica é: Não se cobre. Vá de coração aberto para tudo. Não gere tantas expectativas ou nervosismo com o processo. Deixe seu corpo decidir e as coisas vão fluir. Eu tinha isso bem claro na minha mente: Eu vou tentar! Caso não possa tê-la de forma normal, tudo bem. Pelo menos eu tentei e nos dei a chance. Hoje, se um novo filho eu tiver, com toda certeza tentarei tê-lo de forma normal também. Foi a melhor “tentativa” da minha vida.

Bruna Souza

Mãe de primeira viagem que descobre o universo materno a cada dia que passa.

Website: https://cheirodebebe.com.br

1 Comentário

  1. Mariana Barbosa

    Tão emocionante!

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